Qualquer um que passa por aquela rua, e visse aquela cena; uma mulher sentada na calçada, despenteada, mal vestida e falando sozinha, acharia que ela era louca, mas não aquele cara. Sentou ao seu lado, e começou a falar:
-Moça, você está bêbada?
-Não, e nem drogada.
-Ah, então você é louca?
-Não sou louca não,… Pelo menos eu não era.
-Ah!… Escuta, o que você está fazendo, então sentada aqui e agindo como louca?
-O fato de estar agindo como louca, pelo menos no seu ponto de vista, não quer dizer que eu realmente seja louca.
– Tudo bem, vamos fazer um trato? Paro de te chamar de louca, e você me conta o que está fazendo.
Ela olhou tudo de forma séria e respondeu:
-Estou escrevendo sobre o que as pessoas não conseguem enxergar.
-Então você também não pode enxergar.
-A maioria das pessoas. Melhor assim? Façamos outro trato, se você ficar quieto, e parar de me corrigir eu conto o que está acontecendo.
-Fechado! – E apertaram as mãos.
-Você já reparou que o mundo é muito exigente? Ele quer que você faça mais, consiga mais, seja mais, e isso esgota. Eu moro aqui nesse pequeno condomínio, ai só moram pessoas mortas…
-Zumbis?
-Não neste sentido, você disse que iria ficar quieto.
-Desculpa, Prossiga.
-O fato é que hoje, acordei sobrecarregada, telefone e celular tocavam sem parar, e-mails não paravam de chegar e problemas que mesmo que eu arrumasse uma solução de nada adiantaria. Então surtei… E me demiti. E vim aqui com o bloco e a caneta pra me acalmar e me reencontrar. Eu estou muito cansada, na verdade. Quando eu era criança eu escrevia muito, gostava de montar historias na minha cabeça, talvez eu volte a fazer isso mais vezes.
-Sabe, eu não entendi uma coisa, do que realmente você esta cansada?
-Cansada de esperar por algo que não existe, por precisar de coisas que não tenho, depender de um tempo que não passa, sonhar sonhos que não vão se realizar.
-Então por que fazia isso?
-Porque eu estava morta, e voltei a viver.
-Então você é que era um zumbi.
– Falei figurativamente.
-Eu sei, estava apenas testando sua paciência.
Ela sorriu, e continuou:
-O fato é que agora eu vou mudar a minha vida, começando por mudar dessa casa, desse lugar…
-Já que quer mudar, vamos ir tomar um café, pessoas vivas tomam café.
-Não saio com pessoas estranhas.
-Tudo bem… A propósito, meu nome é Charles.
-Julia.
-Pronto, agora levanta e vamos tomar um café, não somos mais estranhos, ai te conto sobre a minha vida, e ai seremos menos estranhos ainda.
-Tudo bem, mas espera… eu não era louca?